Microapartamento é tendência mundial

01/11/2015

A oferta crescente de micro-apartamentos não é por acaso. Em 1980, 5,8% dos domicílios brasileiros eram ocupados por apenas uma pessoa. Trinta anos depois, homens e mulheres vivendo sozinhos já totalizavam 12,7% das residências do país, de acordo com o IBGE.

No futuro, a tendência é que esses arranjos familiares fiquem ainda mais comuns, segundo o demógrafo e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, José Eustáquio Alves.

Os motivos são diversos: “A proporção de idosos está crescendo e, portanto, o número de viúvos; melhores índices de educação fazem com que jovens tenham mais condições de viver sozinho; e as pessoas se separam com mais frequência e se casam cada vez mais tarde”, enumera.

Para Ricardo Martucci, professor aposentado do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos, esses dados se contrapõem a uma cultura brasileira de supervalorização do espaço.

Em Buenos Aires, segundo ele, é muito difícil, mesmo em regiões nobres, encontrar apartamentos com mais de 150 m². “Há imóveis de 700 m² sendo lançados na Vila Olímpia. Isso é sinônimo de bem-estar?”, questiona.

Para ele, a arquitetura evoluiu de tal forma que áreas pequenas podem oferecer conforto. “A metragem não tem valor em si. Tudo depende de como você a utiliza.”

O fenômeno recente dos compactos está ligado também a uma ideia de que é possível viver com pouco.

A fotógrafa Aline Oliveira, 39, diz estar satisfeita com os 20 m² do seu apartamento, no centro de São Paulo. “Tudo o que uso está aqui, não preciso de mais nada.”

Ficar pouco em casa ajuda. “Eu pedalo muito, vou a exposições, teatros, cinemas e bares. Estou sempre na rua.”

O casal Adriane, 41, e Percival Deimann, 57, também entrou na onda dos compactos. Eles trocaram a casa de 600 m², três carros e vários empregados no Alto de Pinheiros por um apartamento de 40 m² na zona sul.

“Revi meus hábitos de consumo, e hoje tenho controle sobre a minha casa, é muito mais prático”, diz Adriane. 14 M²

É muito

Microapartamentos já são realidade em cidades como Tóquio, Paris e Nova York, onde é possível encontrar imóveis de até 6 m².

Clara Irazabal Zurita, professora da escola de Arquitetura, Urbanismo e Preservação da Universidade Columbia, em Nova York, diz que pequenos apartamentos, se bem projetados, podem oferecer bem-estar por um preço acessível, algo difícil em mercados superaquecidos.

Neste ano, a cidade americana recebeu o primeiro complexo de compactos, o My Micro NY (minha pequena Nova York), que com unidades prefabricadas de 24 m² a 33 m² promete democratizar o acesso à moradia.

O lado ruim, segundo Zurita, é que, se forem muito pequenos ou mal projetados, os micro-apartamentos podem ser “psicologicamente opressores se não houver estrutura urbana adequada e se os moradores não tiverem condições de aproveitar o espaço público”, afirma.